Vivemos em um mundo obcecado pelo sucesso. O produto final, a obra-prima, a meta batida. Ninguém fala sobre o caminho até lá – as ideias ruins, os tropeços, os dias em que nada funciona. O erro virou tabu, como se falhar fosse o mesmo que desistir. Mas quem cria, quem vive de verdade, sabe que o erro não é um fim. Ele é um começo, um caminho alternativo que o mundo não enxergou ainda.
O processo criativo é feito de fracassos. A tela rabiscada e apagada dez vezes. O texto que nunca passa da primeira página. O som desafinado que nunca vira música. A gente olha para o erro com frustração, mas ele está dizendo alguma coisa. Ele aponta o que não funcionou, sim, mas também abre espaço para o que pode funcionar. Aquele detalhe fora do lugar, aquela linha torta, o improviso que salva o que parecia perdido. Às vezes, a beleza nasce justamente no que era imperfeito.
O problema é que crescemos com medo de errar. A escola ensinou que a resposta errada é vergonhosa, que a gente devia saber tudo antes de levantar a mão. A vida adulta faz pior: exige que acertemos de primeira, como se o tempo gasto tentando fosse tempo desperdiçado. Mas a verdade é que criar, ou viver, sem errar é impossível. Não existe traço perfeito sem a mão tremida antes dele. Não existe vitória sem uma série de fracassos amontoados como degraus.
Aceitar o erro como parte do processo é um ato de coragem. Significa olhar para o que deu errado e dizer: "Tudo bem, isso também sou eu." Significa perder o medo de rasurar, de recomeçar, de jogar tudo fora e começar do zero mais uma vez. Não porque falhar é bonito – porque não é. Mas porque é real. O erro é humano, e tudo que é humano carrega verdade.
O mundo está cheio de obras perfeitas demais para serem memoráveis. A arte, a vida, não pedem perfeição. Pedem autenticidade. Pedem que a gente tente, mesmo sabendo que pode dar errado. Porque é no erro que a gente descobre algo novo. Um traço que não existia, uma solução que ninguém viu, uma história que só nasceu porque o plano inicial falhou.
Então, abrace os erros. Não como derrotas, mas como parte do processo. Testemunhas de que você esteve ali, tentando, criando, existindo. No fim das contas, é isso que importa: deixar marcas. Imperfeitas, sim, mas suas. Porque o sucesso pode ser o que todos veem. Mas o erro é onde a gente se encontra.