Juventude: O Lugar Onde Nunca Saímos
Sobre como a juventude se torna um estado de espírito que nos assombra e nos define
Há um equívoco qualquer em acreditar que a juventude é só uma fase, uma fotografia amarelada guardada na última gaveta. Como se um dia a gente simplesmente acordasse adulto, com contas para pagar e uma sobriedade burocrática que sufoca. Não é assim. A juventude é insistente. Ela não nos abandona. Às vezes, aparece como uma memória breve de algo que nunca existiu – um cheiro de chuva na quadra do colégio, a sombra de um primeiro beijo que ficou pela metade, ou aquela música que explode no rádio e te derruba como um soco na boca do estômago.
A juventude é aquele time que ganhou o campeonato nos últimos segundos, a camisa suada e o troféu erguido para uma arquibancada vazia. É a amiga de anos que nunca se perdeu de vez, mas também nunca mais voltou a ser a mesma. É a energia de fazer planos que não chegam ao final da semana e de acreditar que as escolhas erradas não têm tanto peso. E mesmo depois que os calendários mudam, ela volta em flashs: no riscar do fósforo para acender um cigarro escondido ou no jeito como os olhos de alguém brilham sob as luzes fracas de um bar.
Dizem que a juventude é uma ponte, mas nunca nos avisam o que vem depois. Ficam falando sobre o futuro, o “próximo passo”, como se fosse uma linha reta. Mas quem já foi jovem sabe que não é. A gente carrega essa sensação de estar entre o agora e o nunca, em uma repetição infinita. Juventude não é idade; é o espaço vazio entre duas certezas. É aquela voz dentro da cabeça que pergunta “e se?” mesmo quando você já deveria ter decidido.
O tempo insiste em nos empurrar para frente, mas a juventude nos puxa para trás. E talvez esteja tudo bem. Porque no fundo, ser jovem é só querer ser mais do que o mundo nos pede. É ter pressa, mesmo sem saber pra onde ir. É rir do caos. É bater no peito e dizer que você nunca vai virar aquilo que tanto criticava, mesmo sabendo que, um dia, a vida pode te pegar pelo cansaço.
No final, a juventude vira um lugar onde voltamos sem querer – quando um cheiro, uma voz ou uma frase solta nos empurra de volta. Ela fica ali, pairando no meio do caminho, assombrando e salvando a gente ao mesmo tempo. E talvez o segredo não seja fugir dela, mas aprender a carregá-la no bolso, como um bilhete amassado ou um ingresso de show que a gente nunca jogou fora. Um lembrete de que, mesmo adultos, ainda dá para ser jovem o suficiente para errar, recomeçar e inventar um novo amanhã.